Todo mundo tem uma raiva para chamar de sua, sabendo ou não o nome dessa emoção, tanto básica quanto inevitável.
"Há uma classificação tradicional das emoções em primárias, secundárias e terciárias. A raiva está no primeiro grupo, que são as mais simples e estão presentes em todos os seres vivos desde sempre", diz o psiquiatra Daniel Martins de Barros, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Quer dizer que, em estado puro, raiva é tão inocente quanto um animal selvagem.
Mas o animal racional é assim chamado porque desenvolveu córtex frontal do cérebro, estrutura que o permite controlar os instintos e adequá-los ao convívio social.
"Ao longo da evolução, a forma de manifestar a raiva foi mudando. A reação depende do que cada um de nós considera um ataque à própria sobrevivência", diz o psicanalista Marcio Giovannetti, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
FORA DO CONTROLE
Comum a todos, a raiva é vivida em diferentes graus ou intensidades por cada um.
"Em psiquiatria, os sintomas são variações da normalidade. Se saem do controle e começam a trazer prejuízos para o dia a dia, é hora de examinar o que é e o que pode ser feito", explica Barros.
Em si, não é sintoma de nada específico, mas pode estar presente em vários distúrbios, da depressão ao transtorno antissocial.
"Pode aparecer muito no transtorno explosivo intermitente, em que a pessoa reage de forma inesperada, intempestiva e desproporcional à provocação, perdendo o controle", diz o psiquiatra.
Como todo mundo que já levou uma fechada no trânsito sabe, mesmo sem nenhum diagnóstico psiquiátrico o descontrole acontece. E pode atrapalhar a vida.
"O sentimento persistente ou exacerbado traz danos. E muita gente o cultiva, sem perceber que se trata de raiva", diz a psicóloga Marilda Lipp, fundadora do Centro Psicológico de Controle do Stress.
Para lidar com a emoção, é preciso reconhecê-la, o que nem sempre é fácil, porque a raiva tem várias faces -todas potencialmente danosas.
"Se a pessoa não percebe o que está acontecendo, alimenta a raiva (seja em manifestações externas ou internamente), e cria um círculo vicioso", diz Lipp.
Os efeitos se acumulam no corpo. Raiva não controlada pode causar problemas cardiovasculares, estomacais e dermatológicos.
Entendendo o que desencadeia a emoção e como ela se manifesta, estratégias de controle, como terapia cognitivo-comportamental e exercícios respiratórios, podem evitar o estrago.
"Isso não quer dizer negar a raiva, mas aprender a lidar com ela de forma mais racional e adequada ao contexto social", explica Giovannetti.
Achar que é melhor explodir é questionável. "Houve época em que se acreditava nisso. Mas há trabalhos mostrando que a explosão é tão prejudicial quanto engolir a raiva do ponto de vista físico e psicológico", diz Barros.
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