Mais de 5 mil prefeitos tomarão posse nesta terça-feira, 1º de janeiro, em todo
o País. Centenas, milhares deles, vão encontrar um cenário de terra arrasada, de
bagunça, de caos.
Milhares dos novos gestores vão encontrar um cenário de ofensa ao
interesse público. Um cenário que merece permanecer vivo na memória dos que
assumem, para que não façam o mesmo que seus antecessores.
Não é preciso ir muito longe, em busca de exemplos deploráveis de
desprezo às leis. Os quadros de descalabro são pintados aqui mesmo, em vários
municípios do interior do Pará.
Em São Miguel do Guamá, há três semanas, um protesto de mais de 12 horas
parou a cidade, depois que a Justiça autorizou que a prefeita retornasse ao
cargo, do qual ela havia sido afastada sob suspeita de desviar verbas públicas e
de atrasar o pagamento de funcionários municipais. Os manifestantes mantiveram a
gestora sitiada no prédio da prefeitura e bloquearam a rodovia BR-010 durante
cerca de quatro horas. Um congestionamento estendeu-se por mais de 10
quilômetros.
Em Salinas, servidores municipais, revoltados porque não recebem os
vencimentos referentes aos meses de outubro, novembro e dezembro, além do 13º
salário, ocuparam o prédio da prefeitura e depois elegeram como alvo de
protestos um hospital de propriedade do prefeito, que sumiu, desapareceu da
cidade desde a semana passada.
Em Marituba, na última sexta-feira, mais de 100 funcionários bloquearam
por cerca de duas horas um trecho da BR-316. Também reclamavam de atrasos no
pagamento do salário de dezembro, bem como da última parcela do 13º, que deveria
ter sido depositada até o dia 20 de dezembro.
Em Cachoeira do Arari, na região do Marajó, o secretário de Finanças do
município foi mantido refém dentro da secretaria por várias horas, porque o 13º
salário dos servidores - a maioria professores - deixou de ser paga. Em Aveiro,
na região oeste do Pará, os professores estão há mais de cinco meses sem receber
salários. O novo prefeito ficou com o pepino.
É preciso mais, para que um quadro como esse, de desregramento
escandaloso, revele um jeito todo especial de governar? É preciso mais, para que
os novos prefeitos, independentemente de partidos, firmem o compromisso de
fazer, em tudo e por tudo, o contrário de seus antecessores, para que se evitem
novos cenários marcados pelos traços do escárnio em relação à sociedade e aos
servidores
públicos?
Ninguém mora no País ou no Estado. As pessoas moram no município. É no
município que estão o lixo na porta, o hospital sem condições de funcionamento,
a escola na iminência de desabar. É no município que o cidadão, à procura de
transporte público com um mínimo de qualidade, jamais o encontra.
É no município que as pessoas vivem, concretamente, experiências
cotidianas que exigem do Poder Público - das prefeituras em primeiro lugar - a
definição de concretas prioridades para a implementação de medidas essenciais
para o bom funcionamento das cidades.
Os prefeitos que assumem a partir deste 1º de janeiro devem estar certos
de que serão exigidos na medida das expectativas de populações que anseiam por
mais atenção. E nem tudo o que lhes for exigido será possível fazer do dia para
a noite. Em verdade, haverá demandas que não serão superadas nem mesmo em quatro
anos.
Mesmo assim, a administração deve se mostrar apta, desde o primeiro
momento, a orientar-se segundo prioridades que não desprezem princípios
fundamentais, entre os quais os da impessoalidade, da eficiência e da probidade
na aplicação do dinheiro público. Se observarem estritamente tais princípios, é
certo que os novos prefeitos evitarão cenários desoladores como os que
predominam em milhares de municípios.
Fonte: O Liberal