Em votação secreta, por 233 sim, 131 não e 41 abstenções, a Câmara manteve o mandato do deputado de Natan Donadon
(sem partido-RO), mesmo condenado a 13 anos, quatro meses e dez dias de
prisão por formação de quadrilha e peculato. Com a decisão, a Casa cria
a situação de ter um parlamentar em mandato e preso, em regime fechado,
no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.
A votação durou aproximadamente quatro horas. Dos 469 deputados
presentes, 405 votaram. Quando o presidente da Câmara, Henrique Eduardo
Alves (PMDB-RN), anunciou o fim da coleta de votos, Natan estava com as
mãos tapando os olhos. Após o resultado sair no painel, ele se ajoelhou
no plenário, levantou as mãos para o céu e começou a rezar. Na
sequência, comemorou com a família a manutenção do mandato. “A Justiça
está sendo feita”, afirmou Natan.
“A Câmara dos Deputados está de luto”, afirmou o líder do PPS na
Câmara, Rubens Bueno (PR). Para o deputado paranaense, a decisão de
levar o caso a plenário foi infeliz. “Foi uma atitude infeliz que
desgasta ainda mais o Parlamento. Essa votação só vai produzir um
resultado de descrença para a Câmara dos Deputados”, comentou o líder do
DEM, Ronaldo Caiado (GO). Já o líder do Psol, Ivan Valente (SP),
entende que o resultado seria outro se o voto fosse aberto.
Aberta às 19h, a sessão começou com o relator do processo na Comissão
de Constituição e Justiça (CCJ), Sérgio Zveiter (PSD-RJ), reforçando a
necessidade da cassação. Na semana passada, o colegiado aprovou o pedido
para Natan perder o cargo. “A sociedade tem o direito de receber uma
resposta da Câmara. Devemos impedir que a sensação de impunidade se
alastre”, afirmou deputado fluminense.
Depois de Zveiter, falaria o advogado do agora ex-deputado, Gilson
Stefanes. Ele abriu mão e deixou seu cliente discursar. Em uma
intervenção emocionada, usando mais do que os 25 minutos permitidos pelo
regimento interno da Câmara, Natan contou sobre seu dia a dia na
Penitenciária do Distrito Federal 1, dentro do Complexo Penitenciário da
Papuda, em Brasília. Disse que hoje, inclusive, faltou água para tomar
banho.
“Só a verdade me trouxe aqui. Eu não viria aqui se não tivesse a
verdade. Não adiantaria nada eu vir aqui hoje para mentir”, disse Natan
ao subir na tribuna. Depois de falar sobre a família, dos filhos,
criticou a ação do Ministério Público de Rondônia que resultou na sua
condenação. Também reclamou do seu julgamento no STF e apontou, na sua
visão, erros na condução do caso.
“Nunca fiz nada de ilícito. Nunca desviei um centavo da Assembleia
Legislativa de Rondônia”, disparou. “Vejam minha declaração de Imposto
de Renda. No meu terceiro mandato, eu só tenho uma casa”, ressaltou.
Para ele, o Ministério Público local “escolheu as provas” que resultaram
na sua condenação. “As provas para me condenar vieram para o Supremo.
Mas as provas para me absolver não vieram. Quebrem o sigilo bancário das
empresas! O Ministério Público de Rondônia sabe que o serviço foi
executado. Se quisessem descobrir, era simples.”
Durante o discurso, criticou a postura da relatora da ação penal,
Cármen Lúcia, que reprovou o fato de Natan ter renunciado um dia antes
do julgamento no STF. “Por que renunciei? Porque é o meu direito!”
Para participar da sessão, o advogado de Natan precisou pedir
autorização da Vara de Execuções Penais de Brasília. Com a permissão da
Justiça, o diretor do presídio mobilizou agentes do Grupo Penitenciário
de Operações Especiais (GPOE) para escoltarem Natan até a Câmara dos
Deputados. Ao chegar no prédio, deixaram o ex-deputado sob
responsabilidade da Polícia Legislativa, que montou um esquema especial
para ele chegar até o plenário sem ser percebido pela imprensa.
Gastos
Desde a condenação de Natan, em outubro de 2010, até o início de julho, quando foram suspensos seus direitos de parlamentar, a Câmara gastou R$ 4 milhões
com ele em salários e pagamento de benefícios. Somente em vencimentos
foram R$ 962 mil. Em 29 meses de mandato, desde a condenação, em 28 de
outubro de 2010 até a prisão, ele recebeu 36 remunerações de R$ 26,7
mil, entre vencimentos mensais, 13º, 14º e 15º salários.
Outros R$ 893,4 mil foram destinados a ele na forma de ressarcimento
para cobrir despesas associadas ao mandato, como aluguel de carro,
combustíveis, alimentação, hospedagem e divulgação de suas atividades, o
chamado cotão. O parlamentar teve mais R$ 2 milhões para gastar com
funcionários que serviam em seu gabinete na capital federal e no
escritório político em Rondônia.
Condenação
Natan foi condenado em outubro de 2010 a 13 anos, quatro meses e dez
dias de prisão por peculato e formação de quadrilha pelo STF. Ele foi
acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de fazer parte de um
esquema que fraudou licitações para contratos de publicidade da
Assembleia Legislativa de Rondônia entre 1998 e 1999.
Dois anos e meio depois da condenação, a mais alta corte do país
rejeitou um embargo apresentado pela defesa do deputado e determinou o
trânsito em julgado do processo e a expedição do mandado de prisão. Em
28 de junho, o deputado se entregou à Polícia Federal em Brasília. Desde
então está preso na Penitenciária do Distrito Federal 1 (PDF), na
capital federal.
Como acabou a possibilidade de recursos, a Constituição Federal prevê
que a perda do mandato será decidida pela Câmara “por voto secreto e
maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido
político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa”.
No entanto, pelo caso ser inédito desde 1988, a Mesa determinou que o
processo começasse pela CCJ.
Em 12 de agosto, Zveiter apresentou seu relatório recomendando a
cassação de Natan. Ele considera a situação “gravíssima”. Para o
parlamentar fluminense, o deputado preso “perdeu a condição de
permanecer como parlamentar” na Câmara. Na semana passada os integrantes
da CCJ aprovaram o parecer pela cassação por maioria dos votos – 39 a
16.
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