Leia a crônica do Professor Fabiano Calixto sobre o Carnaval Guamaense
Miscigenação
O carnaval é uma manifestação cultural de caráter popular, portanto é no ensejo carnavalesco que os filhos guamaenses escondem, atrás das máscaras, os sentimentos de exclusão e tristezas.
O tradicional evento, que se caracteriza pelas serpentinas, brilhos e cores, consegue trazer às ruas de São Miguel do Guamá uma grande multidão de foliões e folionas. Ambos com os mesmos propósitos: divertir-se.
São Miguel do Guamá está dividido em dois grupos sociais: um constituído de comerciantes e ceramistas; outro de pessoas menos favorecidas economicamente. O primeiro declara-se, nos pergaminhos da sociedade, ricos e poderosos, donos de tudo e de todos; o segundo, o qual é constituído pela massa popular, é o que mais sofre privações, dentro de todos os contextos. Mas essa desigualdade é combatida durante os quatro dias de carnaval, porque sem fazer distinção de classes, nesse período, juntam-se toda a galeria de tipos humanos: pobres, ricos, bichas, prostitutas, negros, brancos, sapateiros e juízes de Direito e vestem-se suas fantasias e desfilam nas principais ruas de nossa cidade, espalhando alegria. Pelo menos é o que registra a face dos brincantes.
São nesses dias de folias, que se vê o aspecto contraditório do ser humano, isto é, aqueles que se declaram ricos e superiores caracterizam-se através de vestes e adereços como um mendigo; por outro lado, a camada popular com trabalhos honestos e algumas economias conseguem comprar fantasias caras, embora no dia seguinte coma ovo com farinha, e desfilam na avenida com o objetivo de ter o reconhecimento social. Talvez essa iniciativa da classe popular seja um meio de combater a exclusão e ser vista com mais dignidade pelo poder público e pelas pessoas que têm um poder aquisitivo mais favorável.
Enfim, o carnaval é o único evento cultural que é capaz de fazer um rico, em São Miguel do Guamá, cumprimentar um pobre; tal prática não é vista nem durante a "Saudação" da Missa dominical.
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