A presidente eleita Dilma Rousseff quer aprovar uma nova regra de reajuste do salário mínimo. Sua equipe de transição vai negociar com as centrais sindicais, em conjunto com o governo Lula, um novo mecanismo para começar a valer já em 2011. A ideia é acertar um novo modelo para evitar o que, pela regra atual, aconteceria no ano que vem: o mínimo não teria reajuste real, sendo corrigido apenas pela inflação. Um auxiliar do presidente Lula disse à Folha, porém, que ele não deixará o governo com "zero de aumento real". Ontem, em entrevista à Band, Dilma também afirmou que apoiará um reajuste real do mínimo, não seguindo a regra atual. "Como no ano passado o crescimento [do PIB] foi zero, nós vamos discutir com as centrais um aumento maior que esse", disse Dilma, acrescentando que a intenção é manter regra semelhante à que está em vigor. O reajuste do mínimo foi uma das principais bandeiras de campanha de José Serra (PSDB), que prometeu elevar o salário mínimo dos atuais R$ 510 para R$ 600, bem acima dos R$ 538,15 definidos pelo governo na proposta de Orçamento enviada ao Congresso em agosto.
Oposição coloca reajuste de R$ 600 como prioridade
Principal bandeira da campanha de José Serra (PSDB), o aumento do salário mínimo de R$ 510 para R$ 600 vai ser uma das prioridades da oposição no Congresso até o final do ano. Cientes de que será barrado pelos governistas, DEM e PSDB querem desgastar a presidente eleita Dilma Rousseff (PT) ao insistir no reajuste -para o qual não há espaço nas contas em 2011. A oposição afirma que o reajuste se tornou uma "obrigação" depois das eleições. "Cabe à oposição defender a tese por uma questão de coerência e, sobretudo, porque o partido e o candidato defenderam que esse mínimo é possível", afirma o vice-líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR).
Demagogia implode política para o mínimo
A exploração demagógica suprapartidária de taxas e valores ameaça implodir a primeira política de valorização do salário mínimo desde o Plano Real, sem que tenha sido demonstrada a necessidade de uma alternativa. Data de dezembro de 2006 o acordo com as centrais sindicais que definiu reajustes conforme o crescimento da economia de dois anos antes. Naquele momento, o presidente Lula abandonava a inviável promessa eleitoral de duplicar o poder de compra do piso salarial. Já descumprida no primeiro mandato, tal meta levaria, pela nova regra, mais uns dez anos para ser atingida -com a economia andando bem. A vinculação entre o mínimo e a variação do PIB combina dois objetivos: pelo lado trabalhista, quem recebe o piso legal mantém sua participação na renda do país; no Orçamento, os benefícios da Previdência, da assistência social e do seguro-desemprego não aumentam mais que a arrecadação de impostos.
Cardozo atua para conciliar PT e PMDB
Um dos coordenadores da equipe de transição da presidente eleita Dilma Rousseff, o deputado federal José Eduardo Cardozo, 51, assumiu o papel de buscar uma conciliação entre PT e PMDB. Ele evita dizer se a presidência da Câmara, alvo de disputa entre os dois partidos, pode ser colocada no pacote de negociação de espaço no futuro governo, para evitar disputa aberta. Deputado federal com dois mandatos, Cardozo não se candidatou à reeleição. Alçado à coordenação de campanha graças à proximidade que sempre teve com Dilma, hoje é cotado para o Ministério da Justiça. "Não tenho ideia do que acontecerá comigo", desconversa.
Quanto mais pobre a cidade, maior a proporção de nulos
Há mais que protesto por trás dos votos nulos. A análise detalhada da votação sugere que uma parte significativa do eleitorado que anulou o voto gostaria de ter escolhido um candidato, mas errou diante da urna eletrônica. A maior evidência é a correlação que existe entre voto nulo e IDH (índice de desenvolvimento humano). Uma correlação entre dois fatores não implica relação de causa e efeito entre um e outro. O que uma correlação mostra é que, quando um dos fatores tem uma variação, o outro também a tem. No primeiro turno, a tendência foi clara: quanto menor o IDH (municípios mais pobres e com escolaridade mais baixa), maior o percentual de votos nulos. No segundo turno, quase não existe correlação entre IDH e voto nulo.
Indústria de armas deu R$ 1,5 milhão a candidatos, diz TSE
Fabricantes de armas e munições declararam à Justiça Eleitoral ter doado R$ 1,55 milhão a candidatos que disputaram o primeiro turno. O dinheiro financiou congressistas da chamada bancada da bala, que liderou o lobby contra a tentativa de proibir a venda de armas por referendo, em 2005. As empresas mostraram ter boa pontaria: os três políticos que mais receberam recursos foram reeleitos. Ex-líder do DEM, o deputado Onyx Lorenzoni (RS) foi quem declarou a maior contribuição: R$ 250 mil, divididos entre a Taurus e a Aniam (Associação Nacional de Armas e Munições), que reúne Taurus e CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos). "Minha relação com o setor é antiga. Sobrevivi a uma tentativa de assalto e estou vivo porque tinha treinamento e arma na cintura", disse. "São doações às claras." Lorenzoni já apresentou quatro projetos de lei que atendem interesses da indústria bélica. Um deles, em tramitação, isenta vigilantes de taxa pelo porte de armas.
Guerra quer antecipar escolha de candidato
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso incitou discussão no PSDB ao defender a escolha de seu futuro candidato à Presidência dois anos antes da eleição. Em uma crítica velada ao candidato derrotado José Serra, FHC disse, em entrevista à Folha, que não "se pode ficar enrolando até o final". A entrevista desagradou aliados de Serra, que só assumiu oficialmente a candidatura em março. FHC reconheceu ainda que o senador eleito Aécio Neves (MG) saiu fortalecido das eleições. Mas não existe candidato natural. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, chamou de sensata a proposta de FHC. "Na minha opinião, devemos ir para a eleição municipal já com candidato à Presidência", diz. O líder do PSDB na Câmara, João Almeida (BA), concorda.
Dilma estuda nome técnico para ocupar chefia da Casa Civil
A presidente eleita Dilma Rousseff revelou, em privado, que prefere acomodar na Casa Civil um nome técnico em vez de um político. A opção preferida de Dilma é uma mulher: Maria das Graças Silva Foster, conhecida apenas como Graça Foster. Por indicação de Dilma, a quem é ligada desde que ambas atuavam no setor elétrico no Rio Grande do Sul, Graça Foster ocupa a diretoria de Gás e Energia da Petrobras. Foster tem perfil assemelhado ao da própria Dilma. Construiu fama de gerente eficaz e durona. Fixa metas e cobra resultados. Por conta do rigor no trato com os subordinados, ganhou na Petrobras o apelido de "Caveirão" -uma referência ao veículo blindado do Bope, tropa de elite da PM do Rio.
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