No tabuleiro político interno do PSDB, a derrota de José Serra significa, automaticamente, a ascensão de Aécio Neves, preterido na disputa pelo Planalto. Mas Serra deu sinais, ontem, de que pretende manter no tucanato paulista o controle do partido. A decepção com o resultado das urnas em Minas Gerais foi estopim para uma mudança de visão de Serra. O coordenador do programa de governo de Serra, Xico Graziano, expressou esse sentimento no Twitter, pouco depois das 19h.
"Perdemos feio em Minas Gerais. Por que será?!", escreveu Graziano. Em seu discurso após reconhecer a derrota para Dilma Rousseff (PT), Serra não mencionou, nem indiretamente, Aécio. Ao mesmo tempo, o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi objeto dos principais agradecimentos. Aécio Neves havia prometido a vitória do tucano no Estado, segundo maior colégio eleitoral do país. Não conseguiu. Serra conquistou apenas 1,1 milhão de votos a mais no Estado em relação ao primeiro turno. O crescimento do tucano foi menor que o de Dilma. A petista teve mais 1,2 milhão de votos.
Primeira mulher eleita tem 56% dos votos
Dilma Vana Rousseff, 62, foi eleita ontem a primeira mulher presidente da República do Brasil. Com 99,98% dos votos apurados, ela tinha 56% dos votos válidos. Seu triunfo é uma vitória pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que escolheu uma técnica neófita em eleições para sucedê-lo, à revelia de seu partido, o PT.
Dilma teve uma escalada de 8% de intenções de votos no fim de 2008, segundo o Datafolha, para a vitória num acirrado segundo turno.
José Serra (PSDB), 68, que disputou o cargo pela segunda vez, teve 44% dos válidos. Dilma teve 12 milhões de votos a mais que Serra, 10,7 milhões só no Nordeste. Também venceu no Sudeste, graças a votações maciças no Rio e em Minas -Estado de Aécio Neves, que terá de costurar com os paulistas para se sagrar novo líder tucano.
Dilma diz que vai "bater à porta" de Lula
Em seu primeiro pronunciamento como presidente eleita, Dilma Rousseff afirmou que vai "bater muito à porta" de Lula, em seu governo, se comprometeu a zelar pelos valores democráticos, como as liberdades de imprensa e religiosa, e estabeleceu como principal meta a erradicação da miséria.
Em 25 minutos de discurso lido, Dilma se emocionou e chorou ao falar de Lula, que há oito anos, ao tomar posse, também elencou a miséria como foco de seu governo. "Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas."
Após vitória, presidente e eleita se abraçam e choram
No primeiro encontro após o resultado, Lula e a presidente eleita Dilma Rousseff se abraçaram e choraram. O encontro foi testemunhado pelos integrantes da coordenação da campanha petista e por vários ministros que estiveram ontem à noite no Palácio da Alvorada. Lula discursou para os convidados dizendo que sua sucessora foi uma "guerreira" ao longo de toda campanha e merecedora da vitória. Em meio à comemoração, Dilma disse que pretende descansar alguns dias nesta semana e depois acompanhar Lula em uma viagem à África e ao G20.
Eleita, Dilma promete erradicar a miséria
Em seu primeiro discurso como presidente eleita, ontem à noite, em Brasília, Dilma Rousseff (PT) disse que seu principal compromisso é erradicar a miséria no país. "Ressalto, entretanto, que essa ambiciosa meta não será realizada apenas pela vontade do governo. Essa meta é um chamado a nação. [É preciso] o apoio de todos para superar esse abismo que nos separa de ser uma nação desenvolvida", disse a ex-ministra em hotel na capital federal, onde se concentravam petistas e aliados, como o vice Michel Temer (PMDB).
Lula defende manter Mantega e Meirelles
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já aconselhou a sucessora, Dilma Rousseff, a manter Guido Mantega no Ministério da Fazenda e Henrique Meirelles no comando do Banco Central. Apesar de Lula dizer publicamente que não interferirá no governo Dilma, a Folha apurou que ele já teve algumas conversas com ela sobre a formação do ministério.
Lula disse a Dilma que acha que deu certo a "dobradinha" entre Mantega, tido como mais desenvolvimentista, e Meirelles, mais conservador, na crise econômica internacional de 2008/ 2009. Para Lula, a manutenção deles sinalizaria uma continuidade que acalmaria o mercado numa hora de preocupante valorização do real em relação ao dólar e de possibilidade de guerra cambial entre os países.
"Serra sai menor" da campanha, diz Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula disse ontem que José Serra "sai menor dessa campanha", pela agressividade contra Dilma Rousseff, e evitou falar de conciliação após a eleição. "Essa campanha foi muito mais violenta de uma parte para outra. Eu sinceramente acho que o candidato Serra sai menor dessa campanha, porque a agressividade deles [tucanos] à companheira Dilma Rousseff é uma coisa que eu imaginava que já tivesse terminado na política brasileira", afirmou Lula, após votar pela manhã, em São Bernardo do Campo.
Dilma manterá estabilidade, diz Palocci
Principal coordenador de campanha de Dilma, Antonio Palocci disse à Folha que a presidente eleita deu quatro recados em seu pronunciamento de vitória. Primeiro foi a "garantia de que não se abandonará os pilares fundamentais da estabilidade". Depois, que governará com sua aliança, mas dará "a mão à oposição". Destacou ainda que ela defendeu uma "imprensa crítica" e que o pré-sal é uma poupança para o futuro. Ex-ministro da Fazenda, cotado para a Casa Civil, Palocci disse que a redução da dívida pública irá "presidir a postura fiscal da presidente".
Com controle do PMDB, Temer será vice com mais poder
Diferentemente de Marco Maciel e José Alencar, que foram extremamente leais respectivamente a Fernando Henrique Cardoso e a Lula, a expectativa é de que Michel Temer seja um vice em que a presidente Dilma Rousseff vá confiar, mas desconfiando. Ele é presidente do maior partido do país, exerce inequívoca liderança no Congresso e tem personalidade política e pessoal mais forte do que seus antecessores. Com seis mandatos consecutivos na Câmara desde 1987, Temer será um intermediador dos interesses do PMDB no novo governo. O preenchimento do primeiro escalão passa por ele.
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