Um em cada cinco diretores de escolas públicas no país é alçado ao cargo por políticos, segundo levantamento da Folha a partir de dados de um sistema de avaliação do Ministério da Educação.
A proporção equivale a 21,8% do total: de 56.911 diretores das redes
estaduais e municipais, 12.413 foram definidos por indicação política,
prática condenada por especialistas em educação.
A proporção é ainda maior se considerada só a rede municipal --na qual
um terço assumiu por interferência de vereadores, deputados, prefeitos e
partidos, por exemplo.
O maior índice desse tipo de indicação foi registrado em Santa Catarina, com 62,8%.
Já no Estado de São Paulo as indicações políticas se limitam a 5,2%,
conforme as respostas dos diretores. E elas são concentradas nas escolas
municipais do interior, já que há exigência de concurso para essa
função nas estaduais há mais de uma década.
ROTINA
O número de indicações políticas pelo país pode ser ainda maior, diz
Ângelo Ricardo de Souza, da Universidade Federal do Paraná, já que
outras indicações definidas pelos diretores como "técnicas" podem ter
esse componente.
Os dados do Saeb mostram ainda que 46,9% dos diretores vêm de alguma
forma de indicação --escolhidos pela prefeitura ou pelo Estado,
incluindo tanto indicações políticas como técnica e outras. E apenas
43,6% chegam aos cargos por seleção ou por eleição. O restante é
escolhido de outras formas.
A indicação política afeta a rotina das escolas, segundo associações de
professores de seis Estados ouvidas pela reportagem. Os relatos citam
escolas divididas por partidos, perseguições políticas, dificuldade para
aprovar pedidos e falta de integração com a comunidade.
Escolas onde há diretores indicados por políticos tendem a compartilhar
menos decisões com a comunidade, segundo dados tabulados por Souza em
parceria com Gabriela Schneider, da UFPR, a pedido da Folha.
Os dados mostram que os diretores definidos por políticos predominam nas
escolas onde o conselho escolar, órgão formado por pais, alunos,
professores e funcionários, nem sequer existia ou se reunia menos de uma
vez por ano.
Os indicados também são maioria entre os gestores escolares que tinham menos --ou até nenhuma-- experiência em educação.
"É o jogo político. O que motiva a indicação de um diretor não é a
competência, mas a política de trabalhar para um padrinho", afirma
Souza.
No Amapá, onde 45,7% dos diretores vêm de indicações políticas, a
diretora Maria das Dores da Silva, 40, da escola estadual Castelo
Branco, de Macapá, chegou a ser exonerada por discordar de políticos que
tentavam interferir na gestão. "Um deles dizia: Essa escola é minha!",
relata Maria das Dores, que só voltou ao cargo após protestos de alunos e
professores.
A Secretaria da Educação do Amapá reconhece que as indicações são feitas
"pelo governador e por partidos aliados", mas diz que pretende testar
um projeto de eleição para diretores em 2014.
Em Santa Catarina, há desentendimentos entre diretores indicados e
docentes que se estendem por anos, como no Instituto Estadual de
Educação, de Florianópolis, a maior escola pública do Estado, com 5.000
alunos.
Indicado por políticos em 2007, Vendelin Burguezon foi alvo de protestos
por semanas e até hoje enfrenta resistências. "Fui convidado, sim, mas
não tenho partido político", afirma o diretor.
O presidente da Associação de Pais e Professores do instituto, Elvis de
Souza, diz que a chegada de Burguezon foi um "balde de água fria" porque
contraria o ideal de eleição, mas afirma que o diretor "tem se
esforçado".
O governo Raimundo Colombo (PSD) diz que, a partir de 2015, selecionará candidatos em processo semelhante aos concursos públicos.
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