Não é só a falta de médicos que é motivo de preocupação na saúde pública
brasileira. O não cumprimento da jornada de trabalho dos profissionais é
outro problema vivido por Estados e municípios.
A Folha mapeou casos na rede do SUS em pelo menos cinco Estados,
que mobilizaram órgãos como Ministério Público de Minas Gerais e TCE
(Tribunal de Contas do Estado) de Santa Catarina.
No sudeste de Minas, por exemplo, a Promotoria cruza dados de médicos
desde 2009 para constatar irregularidades --como a atuação ao menos três
empregos públicos.
O promotor Rodrigo Ferreira de Barros diz que a Constituição proíbe acúmulo de mais de dois cargos do tipo.
A fiscalização resultou em cem inquéritos envolvendo profissionais das
redes estadual e municipal que não cumpriam a carga horária --90% deles,
médicos.
Em dois procedimentos foram firmados TACs (termos de ajustamento) que
resultaram na devolução de dinheiro aos cofres públicos. A ação será
estendida para 94 municípios do sudeste mineiro.
"O profissional que atua dessa forma pode responder por falsidade
ideológica e crime contra a administração pública", disse Barros.
O TCE de Santa Catarina constatou problemas em dois hospitais. No
Regional de São José, na Grande Florianópolis, no primeiro semestre do
ano passado, só havia comprovação de que 8% dos médicos do centro
cirúrgico cumpriam as 80 horas mensais contratadas --65% não atingiam a
jornada integral e 27% não possuíam registro.
O órgão verificou que, no Hospital Infantil Joana de Gusmão, em
Florianópolis, de 13 mil horas contratadas em março de 2011, só 5,4 mil
constavam como trabalhadas.
Em Mato Grosso do Sul, uma CPI na Assembleia Legislativa para apurar
irregularidades na gestão de recursos do SUS disse ser recorrente haver
descumprimento da carga horária dos médicos.
O presidente da comissão, deputado Amarildo Cruz (PT), afirmou que
detectou esse problema nas maiores cidades do Estado, como Campo Grande,
Dourados, Corumbá e Ponta Porã.
"Tem médico contratado por oito horas, mas que não cumpre nem duas horas."
O governador de Piauí, Wilson Martins (PSB), determinou intervenção no
hospital Dirceu Arcoverde, em Parnaíba, pelo mesmo motivo.
O Conselho Estadual de Segurança Pública de Alagoas passou a exigir que
os médicos e peritos cumpram carga semanal de 20 horas nos IMLs de
Maceió e Arapiraca após apontar que os profissionais só atuavam por nove
horas.
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