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Nova crônica por Prof. Fabiano Calixto

A saga do burguês guamaense

Embora no dia seguinte coma ovo com farinha, o burguês guamaense atende aos anseios da exigência da sociedade e procura manter um comportamento diferenciado da classe popular, para que o seu espaço, dentro do cenário social, seja alcançado e reconhecido.

Etiquetas e regras sociais são valores cultivados pela burguesia, de São Miguel do Guamá, que sem medir esforços apresenta, na sociedade, um padrão de vida que foge da realidade do trabalhador assalariado. O burguês exibe com aparato o luxo, a vaidade, o conforto e a comodidade.

O burguês guamaense é destaque no outdoor; está sempre ao lado de “boa companhia”, por isso é tratado com dignidade ao Banco do Brasil e em outros setores públicos ou privados. Os finais de semana, da classe “detentora do dinheiro”, limita-se nas praias ou à beira da piscina onde se deleita de um bom uísque e um saboroso tira-gosto.

A elite intelectual guamaense, concentra-se nos textos de Dante Alighieri, Camões, Fernando Pessoa, Frank Kafka, Homero e Dalcídio Jurandir; os burgueses também têm o gosto pela leitura, porém por bibliografias diferentes, por isso dão preferência à “Malu”, “Horóscopo”, “Fofocas de novelas”, “Julia”, “Sabrina”, ”Bianca” e “Caras”. Quanto à preferência dos programas de televisão, o burguês, prende-se no Big Brother Brasil, no Programa do Ratinho e na TV Fama. Quanto ao gênero musical: o Tecnomelody ecoa dos sons dos carros e proporciona alegria ao burguês que acompanha a letra da canção, que chega até decorar o refrão; “Passa o serrote reco-reco-reco”, enfim, essa é a realidade cultural dos nossos burgueses guamaenses.

O filho do burguês, o famoso burguesinho (a), tem uma educação diferenciada do filho do pobre, porque nunca se sentou em uma cadeira de madeira, que caracteriza o assento da escola pública, ou melhor, sempre estudou em colégio particular. Quanto à Faculdade, o burguesinho (a), cursa em Instituições renomadas da capital e de Castanhal dando preferência a cursos de Direito, Medicina e fisioterapia, pois a palavra “Doutor”, no contexto social, tem uma carga semântica muito forte e para a burguesia o importante é alcançar um lugar único no seio da sociedade. Por que o burguesinho (a) opta pela Faculdade particular? Talvez não acredite no potencial do Ensino público ou não tenha capacidade intelectual de ingressar na Universidade Federal (abafa o caso).

Todos os anos há comemorações de aprovações dos vestibulares, das universidades particulares, mas até hoje ainda não se sabe quem é o “Doutor” que foi formado por tais universidades. Isto significa dizer que a burguesia guamaense, embora ostente o luxo, não têm condições financeiras de manter o filho até o término do curso, por isso à evasão.

Os “endinherados guamaenses” são uns verdadeiros perdulários, mas não se vergam, não reclamam, pois o que vale é manter os caprichos da sociedade e ser destaque na esfera social. O que leva o burguês ser perdulário? Por que tanta opulência? Com que ele gasta? A classe “detentora do dinheiro” gasta com lipospiração, salão de beleza, esteticista, academia, shopping, praia, viagem, carro luxuoso, uísque, jet ski, restaurante, jatinho, bolsas, perfumes, sapatos, joias, plano de saúde, manutenção dos dentes e Faculdade particular. Mas como “toda moeda tem dois lados”, faz-se necessário alencar que o burguês guamaense gasta, porque gosta de aparecer; muitos deles vivem em petição de miséria, endividados com bancos e agiotas e mora de aluguel, mas “entre trancos e barrancos” mantem a postura e oferece jantar especial aos “amigos”, anda de carro luxuoso, apresenta a filha à sociedade, através do Baile das Debutantes, mas tudo é uma capa.

Portanto essa é a saga do “burguês-burguês”, que mesmo vivendo de aparência, consegue ascender nos bailes sociais e gozar dos requintes luxuosos da sociedade interesseira, oportunista e hipócrita de São Miguel do Guamá.